quinta-feira, 29 de março de 2012

Chão de Pena - Sabugal (Água Radium)



História
A história deste sítio de águas minerais, embora recente (inícios do século XX), está envolta na lenda que começa com um conde espanhol, Don Rodrigo, que aqui teria curado uma filha de uma grave doença de pele, mandando posteriormente construir o hotel termal, de que hoje restam as ruínas com o seu ar acastelado. Mas o que vem ainda a adensar o mistério é a própria história oficial relatada por Acciaiuoli: “Até 1920 as águas não eram conhecidas e, naquele ano, o Prof. Charles Lepierre, declarou que as nascentes deste grupo denominado «Curie», eram dotados de propriedades radioactivas.” (Acciauoli 1944, III). Nunca o autor nos seus vários textos monográficos ou relatórios como engenheiro-chefe da Inspecção de Águas, nomeia o lendário conde espanhol; aliás, o único espanhol nomeado no processo é Enrique Gonsalvez Fuentes como concessionário das águas por alvará de 17 de Agosto de 1923. Mas o hotel termal já existia nesta data. Outro dado a equacionar nesta história é a vizinhança das Minas de Quarta-feira, com exploração iniciada em 1910 pela companhia francesa Societé d’Uraine e Radium, de onde partiu muito minério de urânio que foi trabalhado nos laboratórios de Paris, onde Madame Curie (1867-1934) trabalhava. É muito provável que fossem os franceses desta empresa mineira que denominassem as nascentes com o nome desta cientista galardoada com dois prémios Nobel. Sendo assim, o trabalho de Lepierre será enquadrado no processo de legalização da concessão de nascentes que já estavam em exploração. Segundo Luís Paulo “A Madame Curie esteve lá cerca de 4 meses”, mas não encontrámos nenhuma referência a possíveis estadias de Curie em Portugal. A história destas termas é descrita do seguinte modo pelo presidente da Junta de Freguesia: ”O fundador das águas de Radião foi o D. Rodrigo, ele tinha um nome diferente mas aqui ficou conhecido como o D. Rodrigo. Foi ele que mandou construir as termas, que mais tarde foram vendidas aos ingleses. Isto é assim, o D. Rodrigo deve ter abandonado a empresa mais ou menos pelos anos 30. Depois começou a exploração inglesa que como termas durou muito pouco, ficou só a exploração hoteleira. Foi durante esta exploração inglesa que houve um gerente que levou a empresa à falência, por volta de 1951 ou 52, era residente no Casteleiro, embora não fosse de lá. Depois foi leiloado em Lisboa, a uma família de lá, e depois os herdeiros desses, que eram muitos, vêm a vender ao Ramiro Lopes em 1984 ou 85. Ele ainda fez muitas obras, há coisa de 4 anos vendeu ao irmão. Actualmente o projecto está a andar, andam pessoas lá a trabalhar." (Luís Paulo). Em 1929 a exploração termal é arrendada à empresa Sociedade Águas Radium Lda, por contrato até 1940. Esta sociedade introduz outro tipo de tratamentos para além dos de balneoterapia, como seja a aplicação de lamas, compressas eléctricas radioactivas e a “studa chair” para lavagem do cólon. Em 1940 terminou o contrato de arrendamento, mas a concessão continua nas mãos dos herdeiros Enrique Gosalez Fuentes. Acciaiuoli (1947), no relatório da actividade Inspecção de Águas de 1943-46, informa-nos que “a actividade desta Estância está suspensa desde 1945, sendo muito pequena a sua frequência: 35 inscrições em 1944 e 36 no ano anterior”. Em 1951 a sociedade francesa dá lugar à Companhia Portuguesa de Radium, de capitais ingleses, e terá sido esta empresa que toma conta do hotel, explorando apenas a parte hoteleira do complexo, conforme a descrição do presidente da junta, Luís Paulo, estando neste caso as suas datas desfasadas de 10 anos. Esta companhia mineira cessaria a sua actividade em 1961, mas nessa ocasião já o hotel termal estaria abandonado. O complexo termal foi leiloado em Lisboa (segundo Luís Paulo), e posteriormente comprado por Ramiro Lopes, residente na Panasqueira, com a intenção de transformar o local num hotel de luxo. Em 2000 este senhor vendeu a propriedade a seu irmão António Lopes, com o projecto de construir, numa primeira fase, um hotel de luxo (a partir das actuais ruínas) com campo de golfe e piscinas, e numa segunda fase seria trabalhada a parte termal. Em acta de Reunião Ordinária n.º 3 da CM do Sabugal, de 28 de Janeiro de 2000, pode ler-se o seguinte ponto: "Presente ofício da Firma GOLFIBÉRICA referente ao projecto turístico da Águas Rádio – Serra da Pena – Sortelha, tendo o Presidente dado conhecimento da reunião com a gerência da empresa onde lhe foi dado a conhecer o interesse por parte de investidores estrangeiros naquele investimento, estimando-se a criação de cerca de 150 postos de trabalho. Propôs que a Câmara Municipal disponibilize a colaboração técnica possível e que se considere o investimento de interesse municipal, propostas que foram aprovadas por unanimidade." Mas no local pouco foi feito, para além de bloquearem as entradas na propriedade.

Indicações
Reumatismo, gota, hipertensão arterial, colites, edemas, insuficiência circulatórias (Acciaiuoli.1939)
Doenças do aparelho circulatório, rins e nas perturbações da nutrição, hipertensão arterial e nas feridas (Contreiras, 1951)
Doenças da circulação, gastrointestinais (Tratamentos/ caracterização de utentes)
“O tratamento metódico por lamas radioactivas […] a aplicação de lamas radioactivas em artrites e artroses mono ou poli-articulares, é sem dúvida uma óptima aquisição da Águas de Radium com rendimento terapêutico, bem comprovado […] A aplicação de compressas eléctricas radioactivas G. Ray nas artrites, ciáticas, dores ováricas – provocam redução das dores.
O aparelho Studa Chair para lavagem do cólon, com 35 litros de água mineral, produz uma boa desinfecção mecânica." (Acciaiuoli1940)
"«Studa chair» compressas e lamas radioactivas" (Contreiras1951)

Instalações/ património construído e ambiental
Três nascentes, Chão da Pena, Favacal e Malhada, também denominadas de Curie 1, 2 e 3 serviam o estabelecimento termal. A sua emergência localizava-se em minas. "A nascente era lá no fundo do «castelo», e a água passava em zig-zag numa caleira onde se ia pousando uma lama, retiravam essa lama para fazer os tratamentos com ela" (Luís Paulo, da junta de freguesia). As nascentes Lusitânia e Milagrosa serviam o estabelecimento de engarrafamento.
O edifício é uma maciça construção em granito hoje em ruínas. A parte hoteleira é a que se localiza ao fundo do grande pátio e a construção do lado direito corresponde ao antigo balneário.

Natureza
Hipossalinas, ligeiramente cloretadas, sulfatadas, bicarbonatadas sódicas, cálcicas e magnesianas, com urânio dissolvido (Carvalho e Lepierre 1930)
Hipossalina, carbonatada mista, silicatada, muito radioactiva por sais de radium e rádon (considerada no congresso de Lyon, em 1927, como uma das mais radioactivas do mundo) (Acciaiuoli 1947).
Fracamente mineralizada, com sais de rádio em dissolução (Contreiras 1951) Bicarbonatada sódica (Calado 1992).

Alvará de concessão
1922 - Diário do Governo, nº 192, II série, 22 de Agosto, Concessão de Chão de Pena e do Favacal. A primeira com uma área reservada de 50 hectares, a segunda com 50h e 33 ares
1922 - Diário do Governo, nº 8, II série, 10 de Janeiro, Concessão da Malhada. Com a área reservada de 70 hectares.
1926 - 16 de Setembro, Despacho ministerial autorizando a dar o nome “Milagrosa” à nascente de Chão de Pena. Diário do Governo, n.º 249, II série.
1926 - 23 de Novembro, Portaria autorizando a exploração da Lusitana, existente na área reservada da concessão de Chão de Pena. Diário do Governo, n.º 275.
1943 - Diário do Governo, n.º 143, II série de 22 de Junho, Portaria autorizando a Sociedade Termas Radium SARL, a usar a designação “Termas Radium e Água Radium para as nascentes de Chão de Pena, Favacal e Malhada".
Actualmente é proprietário António Lopes, das Minas da Panasqueira, que, segundo informação do Presidente da Junta de Freguesia de Sortelha, também tem interesses no projecto termal de Unhais da Serra.

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